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Entrevista  29 set 2025

“O pagamento está no centro do comércio. Cada vez mais integrado, cada vez mais invisível.”

Tiago Oom, Head of Merchant Acquiring da UNICRE, falou ao Digital Inside, sobre o papel da empresa, as tendências que estão a moldar o futuro do comércio, e como os dados e a inteligência artificial estão a transformar radicalmente a experiência de consumidores e comerciantes.

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O setor dos pagamentos está em plena transformação, com o digital a dominar a inovação, a regulamentação a apertar, e os consumidores cada vez mais exigentes na sua jornada de compra. No centro deste ecossistema, a UNICRE quer ser mais do que um facilitador: quer ser um parceiro estratégico da digitalização dos negócios.

O ecossistema da economia digital em Portugal tem crescido, mas continua a haver quem diga que o ritmo podia ser mais rápido. Que papel tem tido a UNICRE nesse processo?

A UNICRE tem mais de 50 anos e foi pioneira em Portugal tanto na emissão de cartões como na aceitação de pagamentos. Hoje, o nosso papel é acompanhar — e muitas vezes antecipar — a evolução do ecossistema. Desde a pandemia, o digital explodiu e os pagamentos acompanharam essa revolução. O nosso foco tem sido desenvolver soluções que tornem os pagamentos mais fáceis, rápidos e seguros. Já não faz sentido falar de mundos “físico” e “digital” — está tudo interligado. Um pagamento com Apple Pay pode começar num link e terminar num terminal. O futuro é um mundo único de pagamentos integrados.

Têm sido rápidos a adotar tendências internacionais, como o PIX. Como conseguem essa agilidade?

O PIX é um excelente exemplo. Com a quantidade de cidadãos brasileiros em Portugal e turistas que nos visitam, fazia todo o sentido aceitar esse método. Fizemos a integração com um banco brasileiro e conseguimos lançar a solução em seis meses — algo impensável há poucos anos. Isto é possível graças à evolução tecnológica e à forma como trabalhamos com APIs abertas e integrações rápidas. A velocidade hoje é tudo.

Como é que uma instituição com décadas de história consegue manter-se ágil num setor tão competitivo?

A nossa cultura é muito voltada para a inovação. Todos os colaboradores têm a responsabilidade de acompanhar o mercado. E temos uma relação muito próxima com os grandes schemes internacionais — Visa e Mastercard — que nos desafiam constantemente. Só no mercado dos pagamentos internacionais, temos cerca de 60% de quota em Portugal, o que nos dá uma enorme responsabilidade, mas também acesso privilegiado à inovação.

Há ainda comerciantes que evitam aceitar cartões, alegando custos elevados. Isso ainda faz sentido?

Já não. Hoje, os pagamentos digitais têm custos altamente competitivos. Uma taxa média de aceitação de 1,6% a 1,7% é, na maioria dos casos, mais barata do que gerir dinheiro físico, com todos os riscos e custos operacionais que isso envolve. Ainda há muita literacia financeira por fazer, mas estamos a investir fortemente nisso.

Também entraram no segmento do Buy Now Pay Later. Qual é o posicionamento da UNICRE nesta tendência?

Lançámos o Parcelajá, o nosso modelo BNPL, que permite aos consumidores dividir pagamentos entre duas a seis prestações — e começámos pelo canal físico, o que é raro. Através do terminal, o cliente escolhe se quer pagar na totalidade ou em várias vezes. Claro que também o temos integrado no digital, através da nossa gateway de pagamentos, onde estão todos os métodos — desde MB Way, Google Pay, Apple Pay, até ao PIX. Trabalhámos com scoring automático e integração com bases de dados públicas (como a AMA e o Banco de Portugal) para aprovar ou rejeitar em 20 milésimas de segundo. É rápido, seguro, e ajuda os comerciantes a vender mais — e com maior valor médio por transação.

Acredita numa sociedade sem dinheiro físico?

Acredito, claramente. O dinheiro vai desaparecendo, impulsionado pela segurança, conveniência e integração dos meios digitais. Os pagamentos estão cada vez mais embutidos na jornada de compra — desde a gestão de stocks até à fidelização de clientes. Há um caso pessoal: a minha filha viveu quatro anos fora, em três países diferentes. Nunca tocou numa moeda local. Fez tudo com o cartão. Esta é a nova geração.

A IA já está a transformar o setor?

Já usamos IA há anos, especialmente para combate à fraude e modelos de scoring. Agora, estamos a investir em automatizar e aplicar inteligência sobre os dados dos nossos clientes, nomeadamente comerciantes. Criámos uma área de analytics e estamos a transformá-la numa ferramenta preditiva.

Dou-lhe um exemplo real: um hotel no Algarve tinha muitas reservas canceladas a meio da estadia. Estudámos os dados e percebemos que os clientes iam para outro hotel semelhante, mas com… micro-ondas nos quartos. Era isso. Uma questão aparentemente banal, mas que só os dados conseguiram revelar. É este o poder da informação bem trabalhada, cumprindo todos os preceitos e compliance regulamentares.

Já estão a preparar-se para o Euro Digital?

Sim. Para nós, será mais um esquema de aceitação — como o Visa ou o Mastercard. Ainda há muitas dúvidas operacionais, mas estamos a acompanhar de perto. Como aceitação, o nosso papel é integrar todos os meios que os comerciantes queiram usar. O Euro Digital será mais um.

Os pagamentos podem acelerar a internacionalização das empresas portuguesas?

Sem dúvida. O e-commerce já não tem fronteiras. As plataformas tipo Shopify permitem ter uma loja em várias línguas, com meios de pagamento adaptados a cada mercado. E com a logística cada vez mais eficiente, tudo se tornou possível. Nós fornecemos as soluções de pagamento — o resto, do marketing à logística, pode ser automatizado. O maior obstáculo hoje é a regulamentação fiscal e legal, não a tecnologia.

A UNICRE é presença regular no Portugal Digital Summit. Porquê?

Porque é o evento de referência do digital em Portugal. Temos orgulho em estar presentes todos os anos — não só como patrocinadores, mas como participantes ativos. É um espaço de partilha, debate e networking de enorme qualidade. Para nós, que vivemos e respiramos digital, é um ponto de passagem obrigatório.

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