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Entrevista  26 set 2025

“Portugal tornou-se o centro europeu da Sovos”

Rui Fontoura revela porque é que o avanço da faturação eletrónica depende — quase sempre — da legislação, e deixa um alerta claro às empresas que continuam a adiar a modernização dos seus processos fiscais.

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A Sovos, multinacional especializada em soluções de tax compliance, e-invoicing e reporting fiscal, escolheu Lisboa como o seu principal polo europeu. Rui Fontoura, Managing Director Europe da empresa, explica porquê, detalha os planos para o mercado português e analisa o impacto da inteligência artificial na área fiscal.

Qual é o peso de Portugal na estratégia europeia da Sovos?

Neste momento, Portugal é o centro nevrálgico da Sovos na Europa. Temos aqui o único escritório físico na região — o outro está na Turquia — e foi em Lisboa que concentrámos a operação europeia, com colaboradores que antes estavam no Reino Unido, Suécia e Países Baixos. A nossa presença em Portugal nasceu de duas aquisições em 2021, da Petapilot e da Saphety, e a partir daí tornámo-nos o polo estratégico da empresa na região.

Onde é que identifica maior potencial de crescimento no mercado nacional?

Trabalhamos essencialmente em duas áreas: reporting fiscal e faturação eletrónica. Ambas são transversais a todos os setores e obrigatórias para todas as empresas. O maior motor de crescimento, em Portugal e na Europa, é claramente a faturação eletrónica. A evolução legislativa nos vários países está a transformar este mercado por completo.

Mas em Portugal o B2B continua praticamente estagnado. Porquê?

A obrigatoriedade da faturação eletrónica em Portugal ainda está limitada às relações com o Estado. Ao contrário de países como França, Itália ou Polónia, onde já existem calendários definidos para a obrigatoriedade em transações B2B, em Portugal o processo parou há alguns anos. O verdadeiro salto só acontecerá quando houver uma imposição legal. Só com essa massa crítica o mercado se transforma e as vantagens da digitalização tornam-se óbvias para todos.

Portugal é, então, demasiado conservador neste tipo de transição?

Nem sempre. Portugal foi pioneiro na contratação pública eletrónica, o que até hoje é um caso de estudo a nível mundial. Pequenas empresas adaptaram-se muito bem. O problema não está nas empresas, está na ausência de legislação estruturada e de um calendário claro. Sem isso, não há escala, nem tração de mercado.

Onde é que a inteligência artificial já está a fazer diferença no vosso setor?

A Sovos adotou uma estratégia “AI-first”. Internamente, os nossos colaboradores têm acesso a ferramentas de IA em todos os processos — das reuniões à gestão de informação — o que aumentou muito a eficiência. Do lado do produto, criámos o Sovos Intelligence, uma ferramenta que usa linguagem natural e IA para identificar incoerências entre os vários reportings que uma empresa envia à Autoridade Tributária.

Falamos de cruzamento entre faturas, SAF-T, IVA, entre outros. A ideia é que as empresas tenham a mesma visibilidade que a Autoridade Tributária tem. Chamamos-lhe mirror visibility. Antes de uma auditoria, as empresas sabem exatamente o que está (ou não está) coerente. É uma abordagem preventiva.

Como tem evoluído a adoção da cloud nas soluções fiscais? Ainda há resistência?

Da parte das empresas, não. Pelo contrário, temos muitos casos de organizações que começaram on-premises e estão a migrar para a cloud. A resistência vem, pontualmente, de alguns governos. Em França, por exemplo, a lei obriga a que os sistemas de faturação eletrónica estejam em data centers certificados em território francês. É uma abordagem que, do meu ponto de vista, transmite uma falsa sensação de segurança. O mundo digital já não se controla com fronteiras físicas.

Como podem ajudar as PME portuguesas a adaptarem-se a estas novas exigências fiscais?

O nosso grande trunfo é a escala e o acompanhamento contínuo da legislação em todos os mercados onde operamos. Temos mais de 100 especialistas que monitorizam alterações legais em tempo real. Isso liberta as empresas da necessidade de estarem sempre atualizadas e garante que as nossas soluções estão sempre em conformidade. O tax compliance é uma dor de cabeça que as empresas podem e devem delegar.

A Sovos vai estar presente no Portugal Digital Summit. O que vos leva a participar?

Temos mais sete mil clientes em Portugal. Este tipo de eventos é importante para mostrar a nossa oferta a atuais e futuros clientes, mas também para contribuir para a discussão. A faturação eletrónica é um tema que vai dominar a transformação digital nos próximos anos. O que hoje vemos em países como França e Itália vai acontecer também cá. Queremos ajudar as empresas portuguesas a prepararem-se com tempo.

Sovos marcará presença no Portugal Digital Summit, o maior evento nacional dedicado à economia digital, onde irá destacar a sua experiência internacional na área do tax compliance e apresentar as mais recentes inovações em faturação eletrónica e reporting fiscal. Em destaque estará a Sovos Intelligence, a nova plataforma da empresa que recorre a inteligência artificial para dar às empresas uma visão consolidada e preventiva da sua posição fiscal, espelhando os dados que a própria Autoridade Tributária detém.

Trata-se de uma solução que permite às organizações detetar inconsistências, antecipar potenciais não-conformidades e corrigir problemas antes de qualquer auditoria. Numa altura em que as administrações fiscais europeias ganham um papel mais interventivo — em alguns casos autorizando previamente a emissão de faturas — a Sovos posiciona-se como um parceiro tecnológico com conhecimento profundo da realidade local e capacidade para responder às exigências legais de múltiplas jurisdições.

A participação da Sovos no evento inclui sessões de demonstração, apresentações de casos práticos e oportunidades para networking com profissionais de IT, CFO e responsáveis de compliance que queiram preparar as suas organizações para o novo ciclo regulatório que se aproxima.

Para terminar, que mensagem deixa às empresas que ainda adiam este tipo de investimento?

Não olhem para o compliance como um custo inevitável. Olhem como um risco a mitigar. A falta de conformidade pode resultar em coimas elevadas e sérios problemas operacionais. Investir numa solução fiável e escalável deve estar nos planos anuais de qualquer empresa — seja PME ou multinacional. E, idealmente, esse investimento deve ser feito antes de a legislação apertar.

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